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Nobel da paz vai para ativistas que combatem o uso da violência sexual como arma de guerra
05/10/2018 12:06 em Notícias Gerais

O prêmio Nobel da Paz foi concedido nesta sexta-feira (5) ao médico congolês Denis Mukwege e à ativista Nadia Murad por seus esforços para combater o uso da violência sexual como arma de guerra.

No anúncio do prêmio, o comitê do Nobel afirmou que o ginecologista congolês tem sido “o símbolo principal e mais unificador tanto nacional quanto internacionalmente da luta para pôr o fim ao uso de violência sexual em guerras e conflitos armados”.

Nadia Murad, membra de uma minoria religiosa no Iraque, foi capturada pelo Estado Islâmico em 2014 e estuprada repetidamente. Segundo o comitê, ela demonstrou “coragem incalculável ao recontar seu próprio sofrimento”.

O prêmio neste ano é de R$ 3,9 milhões de reais. No ano passado, a Campanha Internacional para Abolir as Armas Nucleares foi a vencedora do Nobel da Paz. A premiação será no dia 10 de dezembro, em Oslo, na Noruega.

 

Quem é Nadia Murad

 

Nadia vivia com a família na aldeia de Kocho, uma pequena comunidade de agricultores e pastores no norte do Iraque. Em 2014, quando o grupo terrorista invadiu sua terra natal, ela e milhares de outras mulheres e meninas da minoria Yazidi foram raptadas. Na ocasião, os invasores mataram seis de seus oito irmãos. Seus corpos foram jogados em valas comuns.

– Eu cuspi em um membro do EI e ele ficou com tanta raiva – disse Nadia em um evento em Londres, em novembro do ano passado. – Eu não estava com medo porque não havia nada a perder. Eles nos forçaram a deixar nossa família e nossa casa, e isso é muito difícil para nós. Muitas mulheres gostariam que tivessem morrido antes que isso acontecesse com elas.

As mulheres e crianças sobreviventes foram transferidas para uma escola, onde foram divididas em dois grupos: as que seriam úteis como escravas sexuais e as que tinham que ser mortas – o que incluía a mãe de Nadia.

– No ônibus, eles nos disseram que seríamos escravas sexuais. Isso não é fácil de esquecer – afirmou.

As que sobreviveram foram vendidas e passadas de mão em mão por homens que as estupraram coletivamente. Foram vítimas do que o EI chama de “jihad sexual”.

Nadia foi reivindicada por um juiz do alto escalão do EI chamado Hajji Salma. Ele a transformou em sua quarta escrava sexual. Ela foi estuprada e espancada todos os dias em que esteve no cativeiro.

 

A fuga de Nadia

 

Quando tentou fugir, depois de alguns dias, Nadia foi pega, rastejando pela janela. Como punição, foi chicoteada e estuprada por seis dos guardas de Hajji Salman.

Ela conseguiu escapar três meses depois, quando a casa ficou destrancada, enquanto o juiz estava fora. Nadia foi resgatada por uma família muçulmana vizinha do local.

Mas essa não era uma prática comum. Nadia teve sorte. A família não apoiava o EI.

– Famílias no Iraque e na Síria levaram vidas normais enquanto éramos torturadas e estupradas. As pessoas nos deixaram gritar no mercado de escravos e não faziam nada.

 

 

Quem é Dênis Mukwege

 

Denis Mukwege Nasceu em 1º de março de 1955 em Bukavu, Congo, trabalha na Universidade de Angers. Denis Mukengere Mukwege é um médico ginecologista congolês, célebre pela ação humanitária na República Democrática do Congo, onde gere um hospital em Bukavu.

Especializou-se no tratamento de mulheres que foram violadas por milícias na guerra civil do Congo, sendo um dos maiores especialistas mundiais na reparação e tratamento de danos físicos provocados por violação.

Tratou mais de 21.000 mulheres durante os 12 anos de guerra, algumas mais do que uma vez, chegando a fazer mais de dez cirurgias por dia em dias de trabalho de mais de 18 horas.

Recebeu o Prémio Olof Palme em 2008 e o Prémio Sakharov em 2014. Foi escolhido como Africano do Ano (2008), prémio do Daily Trust. Recebeu o Nobel da Paz de 2018, juntamente com Nadia Murad.

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